EU VEJO VOCÊ
li recentemente que, em algumas tribos africanas, “eu amo você” não existe. o que existe é: “eu vejo você”.
e o ato de ver vai muito além da dádiva que é enxergar com os olhos. ele fala de recepcionar o outro em sua profundidade, com as suas luzes e também as suas sombras (e todo o enovelado que coexiste dentro dessa dualidade).
logo, quando eu digo que eu vejo você, isso significa que eu vejo suas vulnerabilidades, suas arestas, seus medos, seus emparedamentos, seus descompassos emocionais e, também, suas cintilâncias, seus esforços, sua gentileza, seu cuidado, suas fortalezas.
e amo você por isso.
e fico por isso.
não é de uma boniteza tamanha?
num caleidoscópio de emoções, em que é revelado as inúmeras faces do outro, escolher permanecer e se permitir vê-lo em sua totalidade (ainda em obra), é de uma força gigante.
é que ver o outro e se deparar com a sua complexidade, não é apenas sobre notar suas qualidades e potências, mas também reconhecer suas fragilidades, os momentos em que ele desmorona, as imperfeições que o tornam humano. é sobre enxergar os anseios que às vezes o paralizam, as inseguranças que o fazem duvidar de si mesmo, as suas falhas e contradições.
e, mesmo assim, permanecer ao lado dele.
ver-amar é um exercício constante de acolhimento e respeito à subjetividade alheia. não é moldar o outro à nossa imagem ou expectativas, mas abraçar quem ele é, indo além do que está na superfície. indo além dos sorrisos traçados no rosto que, muitas vezes, escondem abismos não vistos a olho nu.
e, mais do que tudo, é saber esperar o tempo deste outro. porque esperar também é construir. compondo um espaço de confiança e guarida, onde a pessoa vista-amada se sinta segura para ser, sem máscaras ou defesas.
no seu ritmo. no seu pace.
aceitar que o amor é um processo contínuo de descobertas, tanto do outro quanto de si mesmo, é demonstrar que, ao longo do caminho, estamos dispostos a encontrar maneiras de ficar.
porque, no fundo, não é sobre ter todas as respostas, mas sobre ter a vontade de gravitar ao lado, edificando juntos.
mesmo diante das incertezas. mesmo reconhecendo as peculiaridades.
eu vejo você.
fica?
com amor, do meu âmago para o seu,
Camila Cursino